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Arquitetos: EMBAIXADA arquitectura
- Área: 980 m²
- Ano: 2007
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Fabricantes: Arper
Descrição enviada pela equipe de projeto. Desde a última década do século XX, tem sido habitual, especialmente na parte antiga da Europa, a encomenda de projetos que exigem a conservação, renovação e conversão de construções de um passado recente ou distante e das mais diversas tipologias e matrizes culturais - esta arquitetura de interiores, muitas vezes torna-se um campo de experimentação para as ideias de arquitetura e um dos temas mais desafiadores da cidade contemporânea. Não só por causa das condições urbanas, mas também por causa de demandas históricas, sociais e políticas.
Esta síndrome de preservação, por vezes, leva a uma sobrevalorização das estruturas dos edifícios. A idade não é uma garantia de qualidade arquitetônica; pelo contrário, é um processo natural de seleção. A adequação à programas novos e contemporâneos pode ser extremamente passível de erro. Se em certos casos, a possibilidade de adequação está inscrita na identidade espacial do edifício, em outros, a mudança de usos se revela inadequada, levando a um significado inconsistente no caráter do edifício. Por vezes, a preservação da arquitetura que possuem, pode ser, a pior forma de destruição.
O projeto faz parte de um programa de âmbito nacional e governamental - o programa Polis. A estratégia foi a de reviver cidades através da introdução de novos equipamentos, tais como os edifícios de Escritórios de Monitoramento e Interpretação Ambiental (EMIO). O objetivo deste projeto era dinamizar a reabilitação da cidade. Os EMIO são infra-estruturas públicas para exposições e outros eventos culturais, a respeito de assuntos ambientais e regionais.
O projeto é a reconversão de uma antiga infra-estrutura decadente que desempenha um papel relevante no contexto social e urbano da cidade de Tomar, embora sem qualquer interesse arquitetônico particular. Localizado no início do centro histórico da cidade, o edifício foi submetido a vários anexos e alterações ao longo dos anos, encontrando-se ameaçado por uma decadência e inadequado para o uso pretendido. Mesmo que o edifício esteja protegido sob ordenanças de preservação histórica.
O novo programa é composto por duas áreas distintas: uma área pública para exposições, reuniões e cafeteria e uma área privada com sala de palestras e alojamento para os artistas convidados. Confrontado com os planos de regulação, o projeto mantém todo o perímetro externo da construção, enquanto o seu interior é totalmente esvaziado. Assim sendo, e devido ao programa funcional, a nova construção estabelece-se como a anatomia do edifício existente. Um novo corpo arquitetônico que percorre todo o espaço disponível, multiplicando tectonicamente o interior finito em uma nova série de lugares e situações programáticas. As áreas privadas são volumetricamente definidas dentro da estrutura e otimizadas para habitabilidade. Cada uma com o seu próprio acesso, atmosfera, identidade, forma, uso e dimensão. A vida social, exposições e encontros acontecem no espaço intersticial em torno da nova estrutura, e são caracterizados e organizado pelos acontecimentos programáticos definidas pelos espaços fechados.
Os espaços "nasceram" a partir de uma simbiose visceral e da tensão entre este organismo arquitetônico e os limites físicos que o mantém em cativeiro. O edifício existente adquire uma nova leitura interior, sendo reconfigurado e transformado em um espaço unitário e hermético com o uso de pintura branca fosca e revestimento de resina epóxi fosco. Para o organismo que contamina o interior foi criado e desenvolvido um tipo de pele. A materialidade pretendia ser abstrata e, simultaneamente, expressionista. Através de algum tipo de alquimia uma substância foi desenvolvida, uma receita, por conjunção de alguns "ingredientes": pigmento escuro, resina acrílica e esferas de vidro reflexivo. As entranhas deste animal foram pintados com tinta branca brilhante e com revestimento de resina epóxi brilhante. Um novo interior dentro do interior. Uma máquina capaz de produzir espaço, instalada numa casca que foi progressivamente esvaziada e, em seguida, insuflada com uma nova e estranha forma de vida.